sábado, 22 de dezembro de 2007

São Francisco


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.


Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.


Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

Vinícius de Moraes
Imagem: Ialê

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Um pouco de infância...no circo!









Vai, vai, vai começar a brincadeira
Tem charanga tocando a noite inteira
Vem, vem, vem ver o circo de verdade
Tem, tem, tem picadeiro de qualidade
Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto
Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto
Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto
Sopra o vento que protesta, cai no teto, rompe a lona
Pra que a lua de carona também possa ver a festa
Bem me lembro o trapezista que mortal era seu salto
Balançando lá no alto parecia de brinquedo
Mas fazia tanto medo que o Zezinho do Trombone
De renome consagrado esquecia o próprio nome
E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado
Faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo
Foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo
Sem juízo e sem juízo fez feliz a todo mundo
Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria
Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria
De chicote e cara feia domador fica mais forte
Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte
Terminando seu batente de repente a fera some
Domador que era valente noutras feras se consome
Seu amor indiferente, sua vida e sua fome
Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina
Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina
Que o seu corpo é de senhora, que seu rosto é de menina
Quem chorava já não chora, quem cantava desafina
Porque a dança só termina quando a noite for embora
Vai, vai, vai terminar a brincadeira
Que a charanga tocou a noite inteira
Morre o circo, renasce na lembrança
Foi-se embora e eu ainda era criança


Imagens:Ialê

Mulheres










Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira nem sou puta

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Ratátátá

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem
Minha mãe é Maria-Ninguém
Não sou atriz-modelo-dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem


Imagens:Ialê

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Releitura das Lavadeiras de Mário Zanini




Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando
Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando
Tô lavando a minha roupa
Lá em casa estão me chamando Dondon
Ensaboa mulata, ensaboa
Ensaboa
Tô ensaboando

Os fio que é meu, que é meu
E que é dela
Rebenta a goela de tanto chorá
O rio tá seco, o sol não vem não
Vortemos pra casa
Chamando Dondon
(Cartola) Imagens:Ialê

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

As Flores de papel não morrem...

Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

Flores
Flores
As flores de papel não morrem

(PRÁ VOVÓ AIDA HOJE MAIS VIVA DO QUE NUNCA
NA MINHA LEMBRANÇA E NA MINHA SAUDADE!)











Imagens:Ialê

O Futebol


Para estufar esse filó
Como eu sonhei

Se eu fosse o Rei
Para tirar efeito igual
Ao jogador
Qual
Compositor
Para aplicar uma firula exata
Que pintor
Para emplacar em que pinacoteca, nega
Pintura mais fundamental
Que um chute a gol
Com precisão
De flecha e folha seca

Parafusar algum joão
Na lateral
Não
Quando é fatal
Para avisar a finta enfim
Quando não é
Sim
No contrapé
Para avançar na vaga geometria
O corredor
Na paralela do impossível, minha nega
No sentimento diagonal
Do homem-gol
Rasgando o chão
E costurando a linha

Parábola do homem comum
Roçando o céu
Um
Senhor chapéu
Para delírio das gerais
No coliseu
Mas
Que rei sou eu
Para anular a natural catimba
Do cantor
Paralisando esta canção capenga, nega
Para captar o visual
De um chute a gol
E a emoção
Da idéia quando ginga

(Para Mané para Didi para Mané Mané para Didi para
Mané para Didi para
Pagão para Pelé e Canhoteiro)


Letra: Chico Buarque. Desenho: João Pedro prá lelê( prá mim!!!)

O seu Amor

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é.

(Doces Bárbaros)Imagem:Ialê

Ialê e Bachelar


A arca de Noé

Sete em cores, de repente
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.

O sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente
No céu, no chão, na cascata.

E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca.

Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas.

Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante.

E de dentro do buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece.

"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre - "Não!"

A Arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Aos pulos da bicharada
Toda querendo sair.

Afinal com muito custo
Em longa fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais.

Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos, humildemente
Vêm atrás, como na vida.

Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória

Enchem o céu de seus caprichos.
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada.
(Vinicius e Toquinho)


















































Estatuinha



Se a mão livre do negro tocar na argila
O que é que vai nascer?

Vai nascer pote pra gente beber
Nasce panela pra gente comer
Nasce vasilha, nasce parede
Nasce estatuinha bonita de se ver

Se a mão livre do negro tocar na onça
O que é que vai nascer?

Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhas
Nasce tapete pra cobrir o nosso chão
Nasce caminha pra se ter nossa ialê
E atabaque pra se ter onde bater

Se a mão livre do negro tocar na palmeira
O que é que vai nascer?

Nasce choupana pra gente morar
E nasce rede pra gente se embalar
Nasce as esteiras pra gente deitar
Nasce os abanos pra gente abanar

Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, em Arena Conta Zumbi

Fada








Devo de ir fadas
Inseto voa incerto sem direção
Meu bem te vi nada
ou fada borboleta ou fada canção
as ilusões fartas
na fada com varinha virei condão
rabo de pipa olho de vidro
pra suportar uma costela de Adão
um toque de sonhar sozinho
te leva em qualquer direção
de flauta remo ou moinho
de passo a passo, passo...

(Luiz Melodia)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Lendo uma Imagem, Imaginando uma Palavra IV


A PALAVRA QUE SUGERE MUITAS OUTRAS PALAVRAS E A IMAGEM QUE SUGERE DIFERENTES INTERPRETAÇÕES PARA A PALAVRA (SEM TITULO, IALÊ CARDOSO)

Lendo uma Imagem, Imaginando uma Palavra III


A PALAVRA QUE SUGERE UMA IMAGEM IMAGINADA (DESENHO IALÊ CARDOSO)

Lendo uma Imagem, Imaginando uma Palavra II

A IMAGEM QUE SUGERE UMA CRÍTICA E AS PALAVRAS QUE SUGEREM A IMAGEM ( “O JORNALEIRO”, IALÊ CARDOSO, PALAVRAS DE NICHOLAS PETRUS)

“NEM DE FRENTE A TAMANHO ESPANTO PUDE ACREDITAR QUE A VERDADE ERA UMA GRANDE MENTIRA.”

Lendo uma Imagem, Imaginando uma Palavra


A IMAGEM QUE SUGERE UM LUGAR E AS PALAVRAS QUE SUGEREM A IMAGEM (PAISAGEM URBANA, IALÊ CARDOSO, PALAVRAS DE JÕAO PEDRO BRANDÃO)


“CAOS, DUREZA E DESIGUALDADE DAS METRÓPOLES. O TRABALHO MOSTRA ATRAVÉS DE SUAS MÚLTIPLAS IMAGENS A COMPLEXIDADE DOS GRANDES CENTROS URBANOS, A ASPEREZA DAS QUASE AUSENTES RELAÇÕES HUMANAS E A SUPERPOSIÇÃO DOS CENÁRIOS QUE LÁ SE FORMAM. AS CORES CRUAS E ESCURAS USADAS EM QUASE TODO O TRABALHO AJUDAM A NOS CONFIRMAR ESTA IDÉIA. O ÚNICO “COLORIDO” QUE NOTAMOS ESTÁ PRESENTE NA CARROÇA DOS RETIRANTES, VINDOS DE OUTROS LUGARES MENOS DESUMANOS...”

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Café da Manhã - Ilustração Jean Michel Folon




Café da manhã

Jacques Prevért

Pôs café
na xícara
Pôs leite
na xícara com café
Pôs açúcar
no café com leite
Com a colherzinha
mexeu
Bebeu o café com leite
E pôs a xícara no pires
Sem me falar
acendeu
um cigarro
Fez círculos
com a fumaça
Pôs as cinzas
no cinzeiro
Sem me falar
Sem me olhar
Levantou-se
Pôs
o chapéu na cabeça
Vestiu
a capa de chuva
porque chovia
E saiu
debaixo da chuva
Sem uma palavra
Sem me olhar
Quanto a mim pus
a cabeça entre as mãos
E chorei.